quinta-feira, 26 de março de 2015

Mamíferos em evidência (Cingulata e Pilosa)

Ao longo da caminhada do segundo dia de campo, nos deparamos pela primeira vez com um ser-vivo muito emblemático da região Pantaneira, ficamos frente a frente com um indivíduo da espécie Tamandua tetradactyla, o famoso Tamanduá mirim. O simpático bichinho compõe a família Myrmecophagidae que está inserida na Ordem Pilosa. Possui características anatômicas peculiares da família Myrmecophagidae como a fusão dos ossos da maxila e da mandíbula, formando um tubo. A boca dos Myrmecophagidae foi especializada para captura de formigas fazendo uso de uma língua comprida e pegajosa. Este animal possui garras compridas e curvas com funções para facilitar a invasão e o ataque que este animal exerce sobre formigueiros e colônias de cupins, também já foram registrados ataque destes animais à colmeias de abelhas. É um animal terrestre que habita campos semi-abertos, matas de borda ou matas densas ao longo do bioma de cerrado. Tem porte pequeno de aproximadamente 1,20 m de ponta a ponta. As patas dianteiras apresentam uma das características que dão ao Tamandua tetradactyla seu nome do epíteto específico, a presença de 4 dedos, no entanto a quantidade de dedos das patas posteriores é diferente das anteriores, tendo nelas 5 dedos. O Tamandua tetradactyla não possui dentes, tem pelos com coloração que vai do bege ao castanho e uma espécie de "jaqueta" preta que vai da região dorsal até a região próxima às escápulas e o início dos braços. É um animal que apresenta adaptações arborícolas como uma cauda semi-preênsil que o permite explorar as árvores, tem hábitos noturnos e solitário. É um animal que apresenta placenta, portanto não se trata de um marsupial.
   foto 1: Tamandua tetradactyla forrageando numa área de campo limpo, onde há predominância de gramíneas e poucos arbustos, paisagem relativamente comum ao longo do Cerrado brasileiro.
fonte:http://mammalwatching.com/Neotropical/neotropicbrazil2013tripreport.html

foto 2:Tamandua tetradactyla usando a cauda semi-preênsil para se pendurar em uma árvore dentro de uma paisagem de mata mais densa presente no Bioma, talvez um Cerradão ou até mesmo matas Semidecíduas.
fonte:https://www.tumblr.com/search/tamandua%20anteater

Outro animal muito que pertence a mesma família que o Tamanduá-mirim e consequentemente também é um indivíduo da Ordem Pilosa é o Tamanduá bandeira, um animal com um porte muito maior e que não explorou o nicho arborícola como fez os demais membros da família Myrmecophagidae. Devido ao seu tamanho, que pode atingir 1,80 m até 2,10 m de comprimento, o Myrmecophaga tridactyla possui a mesma conformação craniana extremamente especializada como o T. tetradactyla, com o fusionamento dos ossos, a perda dos dentes, o prolongamento e desenvolvimento de uma mucosa pegajosa na língua. Os Myrmecophaga tridactyla são animais que possuem temperamento um pouco mais tranquilo e dócil quando comparado aos Tamanduás-mirim, os Tamanduás bandeira são exímios nadadores, podendo percorrer grandes distâncias, são animais que possuem pelagem com padrão característico por conta de camuflagem e possuem o costume de se abrigar em matas mais fechadas quando os dias são mais quentes. Apesar de não ser a especialidade do M. tridactyla, estes animais conseguem escalar árvores quando necessário. O número de dedos na pata anterior é uma das características que definiram seu epíteto específico, pois há apenas 3 dedos nas patas anteriores com poderosas garras acopladas. É um animal que me deixou muito impressionado por conta do tamanho e da pelagem, muito mais bonito e imponente vê-lo pessoalmente em seu habitat natural.


foto: Myrmecophaga tridactyla adulto dentro de uma área de pastagem, ao que me parece ser no plano de fundo alguns indivíduos de Brachiaria sp.
fonte:http://www.fazendasanfrancisco.tur.br/noticias/pousada-no-pantanal-sul-ms-brasil-noite-dos-tamanduas-bandeira/996/

foto: Myrmecophaga tridactyla adulto se deslocando através dos campos abertos do Cerrado, note que é um campo com certeza antropomorfizado devido à altura das gramíneas e a homogeneidade da vegetação.
fonte:http://geisertrivelato.webs.com/apps/photos/photo?photoid=129161481


Outro grupo de mamíferos placentários que nos fez abrir alguns sorrisos e de uma certa maneira nos fez ter dificuldades na identificação foram os Tatus. A família dos tatus é denominada Dasypodidae e os seus representantes estão inseridos dentro da Ordem Cingulata. A primeira espécie que foi vista e que irei pincelar algumas informações é a Euphractus sexcinctus, ou o famoso Tatu peba. Das três espécies que irei apresentar neste post, o peba é o menor, possui carapaça com tom castanho, sua carapaça apresenta de 6 a 8 cintas articuladas, a cabeça é cônica e achatada, assim como a carapaça não é muito verticalizada como nas outras espécies. Atinge cerca de 70 cm de comprimento na fase adulta, sua carapaça apresenta uma quantidade relevante de pelos dispostos de maneira esparsa. Possuem a alimentação baseada principalmente na ingestão de invertebrados, apresentando de certa maneira uma Homodontia de dentes pequenos e pontiagudos. São animais que apresentam hábitos solitários.

foto: Indivíduo da espécie Euphractus sexcinctus correndo pelos campos de gramíneas, note que o nome "sexcinctus" está associado ao número de cintas articuláveis da carapaça do tatu peba, no caso 6.
fonte:http://www.flickriver.com/photos/andrepessoa/popular-interesting/

A seguinte espécie também alimenta-se predominantemente de artrópodes e invertebrados em geral, no entanto apresenta características morfológicas distintas do tatu peba, como por exemplo a ausência de pelos na carapaça, a convexidade da carapaça, o número de cintas articuláveis aumenta para 9 e as orelhas, cauda e cabeça são maiores. Além disso, a espécie Dasypus novemcinctus (tatu galinha) possui uma carapaça muito mais alta que o Euphractus sexcinctus. A espécie do tatu galinha é de porte maior que a população de pebas, podendo atingir 90 cm um adulto.

foto: Espécime de Dasypus novemcinctus forrageando ao longo da época de seca no bioma de Cerrado bastante presente marcante na região Centro Oeste brasileira, normalmente essa época emerge com advento de queimadas que auxiliam no desenvolvimento das plantas do bioma.
fonte:http://pantanalportal.de/saeugetiere-pantanal/tatu-galinha-neunbindenguerteltier/

A última espécie de tatu não foi vista por nós do grupo Rynchotus, no entanto acho justo mencioná-lo, pois é dentre essas 3 espécies que ocorrem no Pantanal a maior e a mais rara de ser encontrada, o nosso Professor Doutor Harold Gordon Fowler avistou um desses indivíduos durante uma de nossas paradas ao longo das trilhas. A espécie que estava na minha lista particular de desejos é a do tatu canastra, cientificamente nomeado como Priodontes maximus. Este animal pode atingir incríveis 1,50 m e possui nas suas patas anteriores poderosas garras feitas para aperfeiçoar a escavação, está duramente ameaçado e é dificilmente encontrado por conta da baixa densidade populacional e do hábito de viver de maneira fossória. Este animal é o maior tatu atual, possui poucos pelos na parte dorsal da sua carapaça e há projetos ao redor do mundo preocupados na preservação destes indivíduos. A carapça é praticamente toda composta por inúmeras cintas articuláveis e este grande e magnífico animal não possui uma dentição diferenciada devido ao hábito estritamente insetívoro. A espécie também tem uma mobilidade maior durante as noites e conseguem cavar tocas enormes e profundas em uma velocidade de cair o queixo, apenas durante uma noite, um Priodontes maximus consegue abrir de 6 a 8 tocas com pelo menos 80 cm de profundidade e de 35 cm de diâmetro. São animais de fácil identificação por conta do porte, de presença de escamas pentagonais ao longo das patas, por uma distinta faixa de tom mais claro no entorno da carapaça.



 foto: Indivíduo de Priodontes maximus, note o tamanho da terceira garra atingindo aproximadamente 20 cm.
fonte:http://giantarmadillo.org.br/pt-br/o-tatu-canastra-2/

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